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<br>© Isabel Garcia - Floating Seeds #3 - Óleo sobre tela - 67 x 67 cm.jpg

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Isabel Garcia

Semente / Seed

de 2020-09-05 a 2020-10-01

Construindo «Seedlands»

Como é que «Seed», um tema que se julgava ser unicamente de investigação científica e histórica, pode interessar as artes? Quando Isabel Garcia me convidou, logo após o confinamento, a ver os seus trabalhos e para sobre eles escrever, não pude deixar de pensar que «Seed» surgia como uma metáfora oportuna dos tempos que vivemos e que o trabalho da artista me colocava esta interpelação: como é que as artes podem trabalhar e contribuir para os dilemas e problemas que hoje vivemos?

Sempre que abrimos um jornal somos confrontados com novos factos e notícias sobre o aquecimento global ou a continuada e sistemática destruição dos ecossistemas. São problemas que nos afectam como o do plástico nos mares, o desaparecimento das abelhas ou o impacto dos alimentos na saúde humana por via das sementes transgénicas. A pandemia do Coronavírus foi o culminar de todos os desastres naturais. Confinada em casa mais de metade da população mundial, as consequências atmosféricas tornaram-se rapidamente visíveis e, muitos de nós, pensámos ingenuamente que a pandemia pudesse transformar as políticas ambientais das nações. Nada disso aconteceu. Rapidamente os valores das emissões poluentes estão perto dos da pré-pandemia, como deu conta a revista Nature Climate Change (19 Maio 2020), dedicada às causas e aos impactos da mudança climática global.

Estas questões não são novas. Temas como a industrialização e o desenvolvimento urbano e até os efeitos do turismo foram abordados pelos pintores paisagistas. Guiados pelo «sentimento da natureza», a paisagem enquanto «construção cultural» tornou-se para eles lugar de reflexão e de mediação entre a subjectividade e o mundo das coisas. Afinal, Théodore Rousseau, o «homem das árvores» e um dos fundadores da Escola de Barbizon, ou os Impressionistas, todos eles, não estão assim tão longe de nós ao questionarem o ambiente artificial da cidade; ou Cézanne ao elogiar a montanha e Gauguin ao fugir da civilização; tal como Mondrian ao pensar uma «nova imagem» para o mundo. Também as paisagens intocadas, sublimes, serviram de tema ao pensamento sobre a paisagem com Caspar D. Friederich. Nos anos 30 do século XX, foi a vez da fotografia de Ansel Adams ou Paul Strand. Já nos anos 60, os artistas da Earth Art se interessaram pela entropia na natureza; os New Topographics voltaram-se na década seguinte para os ambientes modificados pelo homem; nos anos 80, os performers animaram a paisagem e, nos anos 90, os Eco-Artists começaram a colaborar com os cientistas nas questões da sustentabilidade, da poluição e das políticas ambientais. Actualmente, os movimentos Artivistas alertam-nos para os problemas e para o que pode ser feito. Quanto ao mundo das sementes e das plantas, estas são objecto de pesquisa histórica no contexto do chamado «imperialismo ecológico» (Alfred Crosby) que, devido ao comércio dos navegadores e da colonização europeia (em particular da portuguesa) foi fundamental, para o bem e para o mal. O comércio global de sementes e plantas transformou completamente os hábitos alimentares e as práticas agrícolas do mundo inteiro. Plantas asiáticas multiplicaram-se na África e nas Américas e inversamente as plantas americanas difundiram-se noutros continentes (J. Mendes Ferrão, Le Voyage des Plantes et les Grandes Découvertes, Chandeigne, 2016). Actualmente as sementes são objecto de largas discussões pois estão em causa as modificações genéticas e a redução da biodiversidade.

Assim, a ideia de «Seed» que opera como matriz no processo de trabalho de Isabel Garcia é um convite urgente a pensar a negociação entre a natureza e o ambiente. Os belíssimos objectos em bronze patinado são simultaneamente pequenos cofres e sementes. Guardam, protegem, multiplicam-se e serviram à artista para, por decalque dos seus perfis, construir muitos dos desenhos aguarelados (que não são agora apresentados) bem como as figuras das suas «Floating Seeds», pinturas que foi desenvolvendo durante o confinamento e cujas imagens me foi enviando. Quando me foi dado vê-las, verifiquei a revisitação da tradição da pintura de paisagem e das ilusões ópticas do trompe l’oeil. Nas «Floating Seeds», os fragmentos circulares de sementes são artificiosamente pintados em tridimensionalidade para parecerem desprender-se do suporte e disseminarem-se no espaço. Na série «Another Green World», que evoca a música ambiental do músico e artista visual Brian Eno, vemos buracos ou esconderijos protectores em paisagens estranhas de florestas e céus tormentosos. São pequenas zonas de aconchego onde se abrigam casinhas, fontes ou rios. Daí que «Seed» não se refira unicamente ao ciclo natural da vida e da morte, mas quem sabe a restos de sonhos ou a experiências sensoriais do confinamento vivido. Por exemplo, no sublime das paisagens de «Another Green World» os espaços arquitectónicos criados e a verticalidade dos ciprestes, símbolos da eternidade, permitem imaginar lugares de silêncio, a que a vida urbana nos desabituou. Mas não só. As ideias de transformação e de acção estão subjacentes, pois o que podemos fazer neste apocalipse caótico que nos rodeia? A arte talvez não forneça respostas mas pode indicar caminhos: as «sementes» das pinturas e esculturas de Isabel Garcia são, não só um excelente exemplo de atenção ao passado da arte, na linhagem da tradição da história da paisagem, mas mais do que isso: dão a possibilidade a cada um de nós de olhar para estes trabalhos e meditar na urgência de construir as nossas próprias «Seedlands».

Filomena Serra, Agosto 2020

 


<br>© Isabel Garcia - Floating Seeds #3 - Óleo sobre tela - 67 x 67 cm.jpg
<br>© Isabel Garcia - Another green world #3  - óleo sobre tela - 40 x 35 cm.jpg
<br>© Isabel Garcia - Another green world #1 - oleo sobre tela - 40 x 35 cm.jpg
<br>© Isabel Garcia - Another Green world, 2020 - Óleo sobre tela -40 x 40 cm
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