Lima Carvalho
CITADINOS, CITADINAS
Lima Carvalho nasceu no Porto, estudou e conviveu com os melhores artistas desta cidade, tendo conquistado a admiração e o respeito pelas notáveis qualidades artísticas que cedo evidenciou.
Convidado, em 1973, para integrar o núcleo de professores que renovou o ensino artístico, em Lisboa, iniciou, a partir dessa data, um ciclo de viagens que iria ligar a cidade do Porto à cidade de Lisboa, num vaivém a que se manteve fiel, até hoje.
A exposição “Citadinos, Citadinas” insere-se na temática da exposição de pintura realizada na Cooperativa Árvore, em Maio do ano corrente. Lima Carvalho reedifica na pintura o diálogo com as visibilidades e invisibilidades do quotidiano, fixando momentos de vida e de convivência humana, que evocam presenças, masculinas e femininas, anónimas, mas, aparentemente, familiares.
Através de um ritual de gestos e olhares, Lima Carvalho define o “nosso tempo”, contraditório e instável, tributário do “direito a viver e a triunfar, que se conquista hoje quase pelos mesmos processos por que se conquista o internamento num manicómio”, irónica coincidência que Fernando Pessoa permite estabelecer, num excerto do Livro do Desassossego.
Contrariando a realidade perceptiva, Lima Carvalho recorre à redução aspéctica e ao sentido inventivo da forma, para transfigurar os protagonistas do “drama” citadino, que habitam a superfície da tela, como se existissem no espaço feérico de uma cidade imaginária, a “cidade da pintura”.
Recorrendo a diversas tipologias de padrão e a gamas tonais para sensibilizar extensas superfícies de cor, Lima Carvalho remete-nos para um lirismo geométrico, que assenta no rigor do desenho, na contenção da gestualidade e na irreverência do contraste, que, por vezes, adquire expressão através de valores acromáticos. A cor, quase sempre plana, não obedece ao realismo da cor local.
Num artigo publicado, em Junho de 2015, no Jornal de Letras, Rocha de Sousa atribui à pintura de Lima Carvalho “um humor frio e uma fealdade bonita”, sublinhando a importância dos “personagens isolados sobre paredes vazias que relevam também da memória cubista de um certo Picasso.” Neste sentido, considera que Lima Carvalho “faz como Picasso, soma diferentes pontos de vista, esconde um braço ou dobra uma perna, geometriza saias tufadas pelo vento.”
“Citadinos, Citadinas” constitui a resposta a um desafio que não se compadece com improvisos. Os quadros de Lima Carvalho fazem jus a um percurso exigente, assente num período de formação difícil de igualar, pautado por uma capacidade inexcedível de trabalho, pela inquietude e pelos sortilégios da imaginação criativa.
António Pedro Setembro 2015
Currículo
Joaquim Manuel Lima Carvalho nasceu em 1940, no Porto. Licenciou-se em Pintura, na Escola Superior de Belas-Artes do Porto. Em 1973, foi convidado, pelo Professor Lagoa Henriques, para docente da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa. Foi coordenador da Licenciatura de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Foi eleito Presidente do Conselho Pedagógico e, em 1987, Presidente do Conselho Directivo, assumindo a concretização de três objectivos: obras de recuperação do edifício, amplição das instalações e integração da Escola na Universidade.
Ao longo da sua carreira como professor, Lima Carvalho fez parte do Senado Universitário e da sua Comissão Científica, da Assembleia da Universidade de Lisboa e de um número incontável de Júris, nas mais diversas áreas, comissões, debates, conferências, grupos de actividades associativas e intervenções urbanas, atribuição de prémios e louvores, e grandes acções académicas, mestrados e doutoramentos em diversas Escolas Superiores e Universidades. Foi convidado pelo Reitor da Universidade de Lisboa, Professor Barata Moura, para proferir a Oração de Sapiência na sessão solene de abertura do ano académico, subordinada ao título “A Pintura e as Coisas. Momentos de Esplendor.”
Na década de 70, participou nos órgãos sociais da Sociedade Nacional de Belas-Artes, no âmbito da Direcção Artística, organizando grandes colectivas. Foi um dos fundadores da Cooperativa Árvore. Com Clara Menéres e Queirós Ribeiro formou o grupo ACRE, que desenvolveu numerosas intervenções estéticas urbanas no Porto, Lisboa e Caldas da Rainha, entre 1974 e 1977.
Pintor e desenhador, realizou a 1ª exposição individual na Galeria Ottolini, em Lisboa (1973). Posteriormente, expôs nas Galerias do Jornal Notícias, no Porto (1982), exposição de desenho na Galeria “Teoartis”, em Évora (1985), “Lapul”, Figueira da Foz (1987), e, em 1989, uma exposição de pintura e desenho na Fundação Gulbenkian, com textos do Arq. Sommer Ribeiro e Rui Mário Gonçalves. Em 1984, é convidado para director da Galeria Pousão, no Porto, onde realiza uma exposição individual sobre o tema “Paisagens” e promove muitas outras mostras de qualificados artistas portugueses.
Em 1989, realiza a exposição “Óleos Recentes” na Galeria São Mamede, com texto no catálogo de Eurico Gonçalves. Em 1991, expõe na Galeria E.G. Associados, no Porto. Em 1997, apresenta, na Galeria Praça, a exposição “Paisagens”. Por esta altura, participa na organização de algumas dezenas de exposições colectivas em vários pontos do País e Galerias, designadamente nos Salões de Primavera, promovidos pela Galeria de Arte do Casino Estoril, com finalistas e recém-licenciados das Faculdades de Belas-Artes de Lisboa e Porto.
Realizou e participou em pinturas murais em diversas instituições e lugares públicos, em cerâmica e outros materiais. Pintou retratos a óleo de diversas personalidades. Tem participado em várias exposições colectivas, na Galeria do Casino Estoril, na Reitoria da Universidade de Lisboa, na Cooperativa Árvore, na Galeria S. Francisco, em Lisboa, na Sociedade de Belas-Artes de Lisboa. Em Junho de 2015, realizou uma exposição individual de pintura, na Árvore, no Porto.
Exposições na galeria Arte Periférica: