Exposição anterior:
Tchalê Figueira
O MUNDO ONÍRICO DE TCHALÉ FIGUEIRA
de 2017-04-14
a 2017-05-11
O mundo onírico do Tchalê Figueira
Algo é certo: o mundo do Tchalê Figueira ultrapassa qualquer noção de periferia. É na verdade, o contrário: é um mundo central. Ou melhor ainda, um mundo sem centro.
Porque, o que nasce no seu interior como ser humano, se transforma na espiral da vida. Isto é: sendo ele artista— pintor, é nos traços entre linhas que a energia se gera. Uma energia que se expande no mundo dos homens, não os distinguindo, não os catalogando, não os esmagando com o peso do ‘epicentro’ , que é quase sempre o apanágio desta era do mundo do espetáculo, mas contudo mexe com o ‘sonho’ de cada um.
O onírico do Tchalê (relativo ao devaneio acordado), é na verdade um vasto mosaico notavelmente multifacetado: fantasioso, imaginativo, sonial. Com linhas freudianas, estereótipos jungestes, mergulhos sociais galopantes bukovsikianos, ‘delírio tremis’ de lineamentos rudes, arcaicos e bárbaros. Que atingem então a elegância do cisne que voa, e não do cisne aprisionado num lago urbano.
Cabo Verde está preso no sonho do Tchalê e ele preso nessa fantasia. Pois tudo é ‘maya’, ilusão. E o mundo está preso nesse mundo e o mundo preso na ponta de um pincel que necessita de ser substituído, mas o pintor espera ainda por um pincel de Paris, o azul-cobalto do Japão, ou o pigmento rosa de Alexandria.
Presos? Não. Talvez seja melhor falar em entrelaço. O mundo enlaça-se no Tchalê e se transforma (a alquimia da arte) em soluções nítidas, clarividentes e mesmo repousantes: pois os seus zarapelhos não passam de sonhos tranquilos comparados à crueza da violência que nos atinge no estômago. Na verdade podem ser um apelo à meditação, mesmo se logo à primeira temos uma espécie de recuo a alguns dos seus efeitos plásticos (oníricos).
E tudo dança: budas, tamareiras, cães, lagartos, ditadores, explosões de bombas de mau-cheiro, amor, ternura, sexo, carnaval, pardais, cavalos, galos, escravatura, máscaras, mascrinhas, pontos de luz, pontos de luz…
Nas ilhas atlânticas de Cabo Verde, existe uma hora á tardinha que se chama ‘dezamparim’: é a hora em que a luz vai deixar um lado do planeta e a noite se aproxima. Desemparo. O Tchalê adora essa hora. Foi ele que fez notar que é nessa hora que as ondas se tornam o mais branco rendilhado do universo.
A partir desse dia o Tchalê Figueira tornou-se cósmico por partilhar uma profunda observação ‘onírica’ que parece ser muito simples mas na verdade não é nada simples.
Vasco Martins